Como suspeitava. A nova série da FOX não é ruim.
Vivemos
numa época favorável para séries de terror. American Horror Story veio para
ficar e nos mostrou como isso pode ser possível. Todo dia vemos pipocar um
monte de projetos similares em outras emissoras. O público estava sedento.
Mesmo o cinema não está dando conta do recado ― são poucas as produções ditas do
gênero realmente assustadoras. Por isso, tanto se destacam os filmes produzidos
por Jason Blum, como Atividade Paranormal, Sobrenatural, A Entidade e Uma Noite
de Crime. Todos resgatam aquele clima macabro tão comum nas obras dos anos ‘70
e ’80.
Analisando
este primeiro episódio de Sleepy Hollow, espero se tratar de uma verdadeira série
de terror, apenas disfarçada de série policial de ação. Os elementos estão lá,
a começar pelo próprio Cavaleiro Sem Cabeça, um brucutu monstruoso que lembra
facilmente o Jason de Sexta-Feira 13. Misturar coisas da Bíblia ― do
Apocalipse, em especial ―, deixa a trama ainda mais interessante e atraente.
Vale lembrar que tema similar já foi utilizado por Supernatural, em outro
contexto. O grande problema da série é passar na TV aberta: o excessivo número
de episódios enfraquecerá o ritmo da história; a censura aliada à falta de
liberdade criativa impedirá cenas corajosas de acontecerem (cadê o sangue?
muito conveniente o machado do Cavaleiro cauterizar os ferimentos).
Iniciamos
a jornada com uma batalha na época da Independência dos Estados Unidos, casacos
vermelhos versus casacos azuis. Ali conhecemos um dos protagonistas da série, o
professor de história Ichabod Crane (Tom Mison), desertor da Guarda Real da Rainha, espião
sob o comando do, então, Gal. George Washington. Entre cortes rápidos, o
diretor Len Wiseman nos mostra o essencial: Ichabod procura um soldado
específico, com uma marca na mão. Não tarda para o soldado misterioso aparecer,
montado num cavalo branco, o rosto coberto por uma máscara. Ele defere um golpe
mortal no oponente, com seu machado. Antes de desfalecer, Ichabod consegue
decapitar o Cavaleiro. Nesse momento, com ambos caídos no campo de batalha,
acontece uma ligação de sangue, que [aliada a um feitiço] possibilitará a volta de Ichabod, 250 anos
depois, no Presente.
No
decorrer do episódio, ficamos sabendo que a cidadezinha de Sleepy Hollow abrigou
inúmeros cultos de bruxaria. Um culto do mal reanima o Cavaleiro (aprisionado
num caixão no fundo de um rio) e, por tabela, Ichabod ― que deve impedir o
Cavaleiro de recuperar seu crânio. Na verdade, o Cavaleiro Sem-Cabeça é o 1º
Cavaleiro do Apocalipse, a Morte. Se ele ficar completo, logo os outros três (Peste,
Guerra e Fome) irão segui-lo. Como derrotar a própria Morte? Não sabemos. Por
enquanto, só descobrimos uma fraqueza: a luz do Sol.
Um
dos pontos negativos da série é a escalação do elenco ― sem um pingo de carisma.
A pior é a atriz que interpreta Abbie Mills (Nicole Becharie), a policial que presencia o xerife
ser morto pelo Cavaleiro e acredita em Ichabod. Por que escolheriam alguém tão
inexpressivo para ser uma das protagonistas? (não adianta fazer caras e bocas) Eu
tentei, mas não consegui torcer por ela.
John
Cho, que deve ser o ator mais conhecido do elenco, fez uma pequena participação
especial. Brooks, seu personagem, morre no finalzinho do episódio, nos
proporcionando a cena mais assustadora da première [#medo]. Outro detalhe que
fica evidente é a importância de espelhos. É sabido que desde a Antiguidade
tais objetos são relacionados ao ocultismo. As lendas são as mais variadas:
pesadelos, má sorte, recipiente da alma, previsão do futuro, Candyman (heheh).
Na série, os espelhos se transformam num portal por onde caminham as entidades
sobrenaturais.
Vamos
falar um pouco sobre os quatro criadores deste seriado. Len Wiseman, conhecido
pela franquia Underworld (Anjos da Noite, no Brasil), dirigiu o episódio piloto
e serve como produtor executivo, além de ajudar a bolar a história. Roberto
Orci e Alex Kurtzman, hoje, dois dos produtores e roteiristas mais badalados de
Hollywood, também são produtores executivos e, ao lado de Phillip Iscove,
o pai do projeto, escreveram o piloto. Nenhum deles será o showrunner ― o cargo ficou com o
experiente produtor Mark Goffman.
Não
fiz comparações ao filme do Tim Burton porque quero reassistí-lo. Fica para a
próxima. E pouco conheço do conto de Washington Irving. Falando
superficialmente, a maior diferença é o tom épico que querem dar à série (o
destino do mundo está em jogo!), além de tornarem Ichabod um Herói.
Está
dada a largada para uma série que tem muito potencial, muita mitologia a ser
explorada. Resta saber se conseguirá empregá-los de forma satisfatória.
Acredito que se os realizadores derem ênfase para o terror, vai ficar tudo bem.
Não vimos nem a ponta do iceberg. Citando a oficial Mills, que desistiu de
Quantico, FBI, para a série acontecer: “Só arranhamos a superfície. Seja lá o
que for, vai ficar muito pior” (no bom sentido, eu espero).
Adendo:
- Parece que a intenção dos produtores é mesclar a história dos EUA com a história da série (não sei se gostei disso). Phillip Iscove é canadense, será que isso estava nos planos originais?
- Percebi influências de Evil Dead: o uso do gravador do xerife, por exemplo;
- Ótima escolha da música “Sympathy for the Devil”, dos Rolling Stones;
- Fiquei intrigado com o padre, uma das vítimas do Cavaleiro. Ele estava presente numa das memórias de Ichabod, do passado.